quarta-feira, agosto 31, 2011

Mais do mesmo (e o mesmo do costume)

Publicado no Diário do Minho (31-08-2011):

«A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) manifestou ontem «preocupação»
face ao «colossal aumento de bens de primeiríssima necessidade » e queixou-se que a dimensão
das famílias foi «ignorada para o cálculo do “rendimento mensal equivalente”».


«Vemos com preocupação o colossal aumento de bens de primeiríssima necessidade, como é o caso da electricidade, gás e transportes públicos, que, obviamente, serão tanto maiores em valor absoluto quanto maior a dimensão da família e mais elevado o número de dependentes a cargo», alega a APFN.


(...) « estas medidas não terão obrigatoriamente que agravar a injustiça, aumentando ainda mais a pressão sobre as famílias com maiores encargos de primeira necessidade, de forma desproporcionada relativamente às que têm menores encargos e, como tal, maior folga orçamental».


A APFN (...) «foi com enorme surpresa que tomou conhecimento de que a dimensão das famílias foi totalmente ignorada para o cálculo do “rendimento mensal equivalente”, o que fará aumentar ainda mais a fortíssima política anti-família e anti-natalista a que as famílias com filhos têm vindo a ser submetidas».

«O desprezo pelo Governo da dimensão do agregado familiar será uma omissão colossal.» (...)

Mais um argumento para os que pensam que os dois maiores partidos que têm governado o país não são assim tão diferentes ...

domingo, agosto 28, 2011

Agressão sonora

(...) Sexta, sábado e domingo, há, em Carnide, a partir de Maio, uma festa ou um baile, com uma espécie de música devastadora e penetrante, que não deixa dormir ninguém num raio de, pelo menos, dois quilómetros.

Nunca a polícia interveio neste simpático exercício, que, suponho, considera inócuo e perfeitamente legal. Reparei agora que este hábito se estendeu pela província, perante a benevolência de autoridades que sofrem de insónias ou que não querem interferir com a democracia.

Num Estado que proíbe tudo e regula tudo, a privacidade não conta. Só somos livres dentro de casa e com isolamento de som. A rua é de quem toma conta dela.»
(Vasco Pulido Valente, no Público)

Alerta vermelho

(...) « Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal, o banco central dos Estados Unidos, [diz] que não há muito que a instituição que dirige possa fazer para reforçar o crescimento económico e apelou aos líderes políticos americanos que façam mais para estimular a criação de emprego e o mercado imobiliário.
Lagarde, [actual presidente do FMI] por seu lado, salientou a necessidade de “uma nova abordagem, baseada numa acção política forte, com um plano abrangente que englobe todas as alavancas políticas, a implementar globalmente de forma coordenada”.

A directora-geral do fundo disse que as opções políticas são mais reduzidas que em 2008 e que “não há soluções fáceis, mas isso não significa que não existam soluções”, destacando, sobretudo, a consolidação fiscal e políticas macroeconómicas que estimulem o crescimento.» (No Jornal de Negócios)

sábado, agosto 27, 2011

Ciências da Complexidade

(...) « "há cursos que não têm qualidade, são completamente inúteis e enganam as famílias".

A culpa? Para José Morgado é do Ministério da Educação, que se "demitiu de controlar as escolas do ensino superior", uma demissão "negligente e terrorista", ao deixar que as escolas de ensino superior proliferassem de norte a sul do país "sem controlo" nem fiscalização dos cursos que cada uma oferece.

"Criam-se cursos, dão-se nomes diferentes, mas no mercado de trabalho o impacto será diferente." A título de exemplo, o professor faz notar que tirar um curso de Ciências da Paisagem não é a mesma coisa que ter uma licenciatura em Arquitectura Paisagista. E questiona: "O que é que um tipo formado em Ciências da Paisagem vai fazer? Vai para o desemprego."

O docente do ISPA confessa ainda ter ficado perplexo ao encontrar cursos como o de Ciências da Complexidade na lista da oferta formativa.

Em Portugal há 1181 cursos distribuídos por 271 estabelecimentos de ensino superior» (...)

Citado do i , entrevista a José Morgado Professor no ISPA.

sexta-feira, agosto 26, 2011

liderança


(...) «perigos da liderança. O elemento comum a todos é a sensação de invulnerabilidade da qual resulta uma vertigem de poder infinito. Por vezes, quando se está no topo, parece não haver limites. De onde decorrem três perigos: (1) os líderes poderosos afrouxam para si os quadros morais que exigem aos outros; (2) revelam uma propensão para não olhar a meios; (3) alargam o seu poder em vez de o limitarem.

Ora os líderes sábios fazem o oposto: (1) aplicam a si mesmos os quadros que querem que os outros sigam. Eles sabem que constituem um exemplo e que os outros seguirão esse exemplo, seja ele bom ou mau; (2) sabem que os meios não justificam os fins ("Adoro a competição", dizia Murdoch, que acrescentava: "E quero ganhar"); (3) restringem o seu poder. Conscientes do apelo do canto das sereias, pedem para ser amarrados ao navio.

Os líderes sábios acabam pois por controlar o seu próprio poder. Rodeiam-se de pesos e contra-pesos. São cautelosos e sabem que no meio está a virtude.» (...)

Retirei isto do Jornal de Negócios, um artigo de Miguel Pina e Cunha.

quinta-feira, agosto 25, 2011

Para pensar

JPP, no Abrupto:Link
«No primeiro dia dos incidentes em Londres, antes de se formar a vaga maciça de repúdio pelos seus autores, – também, meus amigos, em si mesma um “movimento social” –, uma menina da televisão portuguesa falava da “indignação” da “população” londrina contra os cortes nos programas sociais, em particular para a ocupação dos jovens, motivo tido como próximo dos tumultos. Durante os dias seguintes, a mesma jornalista manteve um tom próximo do inicial, oferecendo-nos aquilo que podia bem ser a visão do Bloco de Esquerda britânico (existe e são trotsquistas) resistindo mesmo a um mínimo bom senso nos relatos que fazia.

Depois, mudou, com a onda, mas percebia-se que o seu entusiasmo esmorecera. Pelos vistos a “população” que se tinha “indignado” contra a polícia, dedicava-se a roubar plasmas e telemóveis. Deveria estar mais atenta aos trabalhistas britânicos, cujos deputados eleitos nos bairros onde começaram os tumultos foram dos primeiros a condenar violentamente o que se estava a passar e a pedir punição exemplar. Eles sabiam muito bem o que é que os seus eleitores pobres, étnicos, trabalhadores, pensavam da “população” que tanto entusiasmava a jornalista»

O ruído, assasino do pensamento

«O ruído é a mais impertinente de todas as interrupções porque interrompe o curso do nosso pensamento e chega mesmo a cortar-lhe o fio. Mas quando não há nada para interromper, é evidente que não pode ser sentido como um incómodo particular»
(Arthur Schopenhaeuer, 1788-1860)

domingo, agosto 07, 2011

educar para a eco-austeridade


(...) « ideias para transformar as suas idas ao supermercado em lições de vida para os seus filhos.

Distinga entre aquilo que apetece e aquilo de que precisamos. Quando um miúdo vê um brinquedo que realmente quer, ele muitas vezes acredita que precisa dele. Tente ensinar-lhe a diferença. Uma forma de não mimar demais os seus filhos é ensinar-lhes que aquilo de que necessitamos é importante e aquilo que nos apetece é supérfluo. Assegure-os que fará o seu melhor para lhes oferecer aquilo de que eles necessitam. Deixe para os amigos e familiares, nas alturas de aniversário e Natal, para lhes darem o que eles querem.

Evite comprar brinquedos e/ou roupas caras e de marca. Isto ajuda a desenvolver a ideia de distinguir o "apetece" do "preciso".

(...) A sua filha gostava imenso de dormir num pijama com as princesas da Disney nele desenhadas, mas convenhamos que dormirá tão bem num pijama Zara que custa metade do preço. (...) Explique isto aos seus filhos. Não se trata apenas de gastar mais uns euros nisto ou naquilo. Trata-se sim de adoptar um pensamento racional em relação a desejos imediatos. (...)

Adie a gratificação. Os nossos filhos estão a crescer numa geração que vive do imediato e que se está a tornar impaciente - eles têm acesso a fotografias instantâneas, mensagens instantâneas e filmes instantâneos. Ensine-os a esperar pelas coisas que eles querem mas de que não precisam. As probabilidades dizem que, se o fizer esperar, por um período determinado, por certa coisa (3 ou mais meses) o seu desejo por essa coisa vai diminuir, ao ponto de se esquecerem dela. Se, depois de um longo período de espera, eles finalmente têm o que querem, os seus filhos vão usufruir e apreciar mais essa mesma coisa.

Faça compras com uma lista, e tudo o que não estiver na lista não compre. Isto ajuda a controlar as chamadas compras por impulso e torna claro para os seus filhos aquilo que lhes vai ou não comprar. Mantenha-se longe das secções de doces e de brinquedos, a não ser que estes façam parte da sua lista de compras. Isto poupar-lhe-á algum tempo e dará menos ideias aos seus filhos de coisas que eles queiram.

(...)
Ensine aos seus filhos o valor do euro. Quando o seu filho tiver idade suficiente para usar o dinheiro, dê-lhe uma pequena mesada. Como diz o ditado, "para ensinar o seu filho o valor de um euro, dê-lhe um cêntimo". Dê-lhe uma determinada quantia de dinheiro mensalmente ou de dois em dois meses, para que ele tenha que esperar um tempo para que possa gastar o dinheiro. Nunca lhe dê um adiantamento. (...)

Recorde-o que o pouco é muito. É muito melhor dar aos seus filhos brinquedos educativos e de grande qualidade do que encher o quarto deles de brinquedos baratos que se partem facilmente e que em relação aos quais eles perdem rapidamente o interesse. Quanto menos brinquedos o seu filho tiver, mais os vai apreciar. (...)

Resista à pressão. Um dos argumentos mais persuasivos que uma criança pode usar para o convencer a comprar qualquer coisa ridiculamente cara é dizer "toda a gente na escola tem. Eu vou ser o único a não ter". Aqui terá uma oportunidade excelente para construir a atitude do seu filho perante as pressões dos pares. Mas primeiro deve preparar-se a si próprio para resistir à pressão dos outros pais, família e amigos. Esteja preparado para enfrentar a crítica de outros pais, família e amigos.

Partilhe com os seus filhos as razões para não comprar um determinado brinquedo muito popular e diga aos seus filhos que os está a educar de acordo com os seus padrões e de acordo com aquilo em que acredita, não com os padrões dos outros.

Mantendo-se firme, estará a ajudar o seu filho a viver de acordo com os seus princípios, sem ceder a pressões. Na adolescência, quando os colegas o pressionarem para beber ou tomar drogas, terá mais esperança que eles estejam acostumados a não fazer tudo o que os outros fazem e manterem-se firmes nas suas convicções. E isto ensinar-lhes-á também que o valor de uma pessoa advém não daquilo que ela tem mas sim daquilo que ela é.

Desenvolver uma atitude agradecida. Comparando com todas as crianças do mundo, os nossos filhos são extremamente privilegiados. Os nossos filhos usufruem de mais brinquedos, comida, conforto e mordomias, até mais do que os filhos de reis e rainhas de outros tempos. Além disso, enquanto o nosso filho se debate sobre que sabor de gelado escolher, outras crianças, do outro lado do mundo, estão a morrer à fome.

(...)
Modere e restrinja os seus próprios gastos. Faça um orçamento e mantenha-se fiel ao mesmo. Evite compras desnecessárias. Arranje forma de viver de maneira mais simples. O seu exemplo fala mais do que qualquer palavra.

Dizer que não a todas as coisas que o seu filho não precisa, numa base regular, não é fácil ou divertido. Na verdade, dá grande prazer a todos os pais ver a cara de alegria dos filhos quando eles têm um brinquedo novo ou qualquer outra coisa que eles desejem muito. Mas estes "nãos" são, na verdade, grandes "sins".

Eles são sins para as vozes da consciência e da razão. Sim contra a pressão dos pares. Sim em crescer em paciência e domínio sobre aquilo que se deseja. Sim à responsabilidade financeira e à liberdade. E sim a uma felicidade que dura muito mais do que bens materiais e fugazes.» (Mary Cooney, em aceprensa.pt)