quarta-feira, dezembro 28, 2011

Figo Maduro


«Por morte do pai, em 2001, tive de equacionar quatro prioridades em relação à família, sem detrimento de nenhuma delas ao colocá-las por ordem numérica: tempo para os filhos; educação artística; dinheiro para nos sustentarmos; educação na fé católica.

Após ter sido professora de Inglês num colégio particular em Lisboa durante dois anos, em 2004, com os meus quatro filhos, mudámo-nos para Alcochete. Aqui, com alguma tranquilidade, pude ponderar melhor o futuro. Não obstante parecer evidente ter que me render a um protótipo de vida e a uma prototipa profissão, sabendo a priori o que isso significaria em falta de liberdade na gestão de tempo e em imprimir a dinâmica que queria, decidi não aceitar nenhuma das possibilidades de trabalho que me foram na altura sugeridas, e arriscar trilhar o nosso próprio caminho, com todos os riscos que uma tal decisão pudesse acarretar.

Atualmente sou gerente da empresa "FigoMaduro Unipessoal Limitada" cuja actividade é prestar serviços musicais e que tem por base uma família que sempre se dedicou à Música, composta por mim e os meus quatro filhos: João Maria (11); Madalena (13); Maria (15) e Luísa (17).

(...) esta foi a arte pela qual optei para se tornar aliada da educação que lhes queria proporcionar: é altruísta por natureza, porque não só feita para prazer de quem a faz, mas convida à partilha; é disciplinadora de hábitos e de gestão de tempo; requer perfeccionismo, por isso obriga à paciência e à humildade; molda um coração magnânimo, pois faz com que nos abramos outros mundos e a outras culturas. Tudo isto provocando um enorme prazer. O objetivo do FigoMaduro é, por isso, simultaneamente musical e educacional. Não se propõe, de que forma for e através dele, coagir qualquer um dos filhos a ser músico: sempre tiveram liberdade de escolha nos instrumentos que quiseram tocar e sempre terão liberdade para decidir as profissões que quiserem vir a desempenhar. Ainda que não houvesse oficialmente o grupo, existiria sempre o projeto. Entretanto, dois dos filhos optaram já pela via artística.

O crescimento do "FigoMaduro" tem sido gradual e ajustado à medida do que podemos corresponder, com a experiência que temos vindo a adquirir.

Em Julho de 2005 oficializámos o "FigoMaduro"; em Novembro de 2007 constituímos a empresa "FigoMaduro Unipessoal Limitada"; e em Novembro de 2010, lançámos o primeiro álbum*.
(...)

Em simultâneo, exerço funções de pai, mãe, dona de casa, música, empresária, secretária, manager e, desde que lançámos o CD, também editora. A sensação que tenho é a de quem começou há dez anos uma prova de pentatlo e que não pôde, ainda, recuperar forças.

Poder-se-ia pensar que os filhos não vivem a idade, dada a responsabilidade e o grau de exigência que lhes é pedido. No entanto, momentos tem havido que, ainda que fosse muito tentador aceitar esta ou aquela atuação, há que ter a fortaleza de dizer que não em benefício desse equilíbrio, em relação ao qual esforço-me por ser coerente. Em contrapartida, noutras alturas, e em detrimento de programas de fim-de-semana ou de uma festa, há que ter espírito de sacrifício, e dizer que sim. Para além disto, assumem uma atitude responsável em relação ao cumprimento dos deveres escolares, pelo
que me tranquilizam nesse aspeto.

Em suma: a crise de que tanto agora se fala, não nos suscita nenhuma novidade. Sempre fui educada a batalhar e alcançar objetivos por mérito próprio e, nesse sentido, posso afirmar que os filhos não fogem à regra.

(...)

Estamos especialmente gratos àquelas pessoas que nos contrataram, sobretudo particulares que, aquando do início, acreditando, confiaram.

Mas a grande mais valia terá sido a educação dos filhos que, através do Figo Maduro, lhes tem sido proporcionada, de tempo em família, de alegria, amadurecimento e desprendimento, de responsabilidade, rica de experiências e de contactos com todo o género de pessoas, de lugares que nunca poderiam ter conhecido, e a esperança que sentimos que semeamos, e nos é devolvida pela confiança que em nós depositam.

Pretendo com o que anteriormente foi relatado, demonstrar que é possível ambicionarmos algo em que acreditamos, ainda que remando contra a corrente, e que tudo devemos fazer para não sejam as circunstâncias adversas a impedi-lo. Crer e querer é tudo o que é preciso!» (Madalena Jalles)