segunda-feira, setembro 20, 2010

adultos infantis, crianças mandonas


«Miúdos cada vez mais dependentes e mandões»
No Sol, em 20 de Setembro de 2010

"As crianças portuguesas são cada vez menos livres e menos autónomas, mas capazes de comandar a família, defende a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), lamentando a falta de tempo e espaço para os mais novos de hoje brincarem

O presidente da SPP assume a dificuldade em falar do estado da infância em Portugal pela disparidade de realidades, mas considera que a sociedade actual é feita de «adultos egoístas e infantilizados e de crianças sabidas».

«O pequeno ditador saiu dos livros para a realidade, hiperactivo e desatento, decidindo os consumos da família, inundado em calorias, com televisão no quarto e playstation move na sala, uma das únicas oportunidades de actividade física», comenta Luís Januário à agência Lusa.

Duas décadas depois de Portugal ter ratificado a Convenção sobre os Direitos da Criança, data que se assinala na terça-feira, o pediatra retrata as cidades portuguesas como um obstáculo às brincadeiras na infância.

«As cidades foram bombardeadas pela união nacional dos autarcas e dos empreiteiros que liquidaram os quintais, as matas, os olivais, os pinhais, as praças e os terreiros. As ruas e as passadeiras são perigosas e os passeios estão destruídos ou transformados em parque automóvel», descreve.

Também o conceito de tempo livre tem sofrido transformações, com a redução dos períodos para brincar e sem que as crianças sejam ouvidas.

Também a psicóloga clínica Lara Constante vê a «demasiada estruturação dos tempos livres das crianças» como uma diferença marcante em relação há 20 anos.

«A maior parte das crianças que acompanho tem um horário muito sobrecarregado de actividades, algumas sem um único dia verdadeiramente livre, em que possam brincar como entendam, criar, desenvolver-se», conta.

Mesmo os tempos fora da escola são demasiado estruturados. Fica assim a faltar criatividade nas brincadeiras e capacidade para inventar o que se faz no tempo livre.

«As crianças tornaram-se também mais dependentes, mesmo nas brincadeiras. Têm mais dificuldade em relacionar-se socialmente e em verbalizar os afectos», acrescenta a psicóloga infantil.

Há 20 anos, a vida familiar era diferente e havia uma comunidade próxima mais disponível para ajudar a ir educando as crianças.

Actualmente, a sobrecarga profissional dos pais e de muitos avós fá-los ceder mais facilmente à imposição dos filhos, enquanto a culpabilização pela falta de tempo é trocada por presentes: «Nota-se uma grande dificuldade em estabelecer uma sintonia entre mimo versus regras».

Contudo, em duas décadas a criança beneficiou também da evolução da sociedade.

«O ensino pré-escolar é frequentado por um número cada vez maior de crianças. Entrar numa escola aos três anos traz muitos benefícios, até porque é a altura em que se começa a desenvolver o relacionamento social», refere Lara Constante.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1990/91 a educação pré-escolar não obrigatória abrangia cerca de metade das crianças entre os três e os cinco anos, enquanto em 2007/2008 já cobria 80 por cento.

Luís Januário alerta porém que há pouco de comum entre uma criança de um colégio privado no Porto ou Lisboa e outra cuja escola encerrou numa aldeia em Lamego.

«Há pouco em comum entre uma das 10 mil crianças institucionalizadas e uma outra vivendo com uma família que a estima. Entre uma criança com os pais desempregados e outra com pais economicamente estáveis. Entre um filho de emigrantes de uma minoria linguística e outro cujos pais escrevem em português segundo o novo acordo ortográfico. Entre uma criança negligenciada ou maltratada e outra que é acarinhada», exemplifica."

terça-feira, setembro 14, 2010

Cresci num lar homossexual

Republiquei esta mensagem de Novembro de 2009 dado que continua actual:

“O meu nome é Dawn Stefanowicz. Cresci num lar homossexual, entre os anos 60 e 70, em Toronto [Canadá], em contacto com a cultura GLBT (gays, lésbicas, bisexuais, transexuais) no meio das suss práticas sexuais explícitas”.

Assim começa este livro, autobiográfico: Out From Under: The Impact of Homosexual Parenting (Annotation Press, 2007), algo assim como "sair do invisível: o impacto da adopção homosexual".

A autora diz que se "está a ignorar as crianças no debate actual sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo".

O livro já foi comentado por Gerard Van Aardweg, psicólogo e professor de Psicologia em Amsterdão, Holanda, autor de estudos sobre a questão:

«Se se quer conhecer a verdade sobre a paternidade gay, é necessário recorrer à observação de dados no terreno. Descrições da vida quotidiana, com pares homossexuais, durante vários anos; exames do comportamento crianças e adultos, em interacção recíproca; observações que cubram um período alargado do desenvolvimento afectivo e da personalidade das crianças em causa».

«Há duas vias para conseguir isto: fazer inquéritos às pessoas que lidaram de perto com estas situações, ou questionar as pessoas que viveram neste ambiente acerca das suas recordações.
É neste segundo grupo que se apresenta este livro.»

Dawn, actualmente com 40 anos e mãe de duas crianças, conta a suas experiências de infância numa família marcada pela homosexualidade activa do seu pai.

Dawn fala da sua mãe como uma pessoa tímida, débil, passiva, cúmplice das andanças do marido. Ele não demonstrava afecto pela esposa. Tratava-a como uma criada, para "cozinhar, fazer a limpeza" e "satisfazer as necessidades e caprichos" do marido.

Dawn queixa-se da sensação de falta de afecto do pai, e da necessidade que sentia de que ele lhe desse segurança. O mundo do pai, na sua visão, estava centrado nas relações homossexuais e tudo o resto ficava subordinado a esta sua paixão. Os filhos estavam em segundo plano. Todos eles tinham problemas de comportamento.

Lembra-se de que os parceiros masculinos do seu pai passavam temporadas lá em casa, meses e anos, por vezes. Que eram vários e cada um, por sua vez, "tinha uma enorme quantidade de parceiros anónimos, e dedicavam-se a práticas sexuais muito variadas, sexo em grupo incluído". Dois dos parceiros do seu pai suicidaram-se pouco tempo depois de se terem separado.

"Aquela situação de homossexualidade sem freio parecia-me uma traição, que tinha frustrado para sempre qualquer esperança de felicidade na nossa família".

Esta mulher refere que lhe dói a situação do seu pai, morto de SIDA aos 50 anos, mas quer fazer compreender, a quem tem poder de decidir, a dor e o sofrimento dos menores que vivem nestas situações.
Diz no seu sítio web que "ao fim e ao cabo, são as crianças as vítimas reais e os perdedores da legalização do casamento homosexual".