Pensar e experienciar "mulher" é mais do que um género cultural. Estou-me a referir à comoção daqueles filamentos mais profundos das relações interpessoais que se fundamentam, e se alimentam, da condição sexuada feminina e masculina, mesmo que não tenhamos completa consciência disso.
Certamente que estas relações necessitam expressar-se na cultura, geram cultura, e vivem dentro dela. Mas a cultura só é possível por causa destas relações radicais, e não o contrário, embora haja interacção e interdependência entre elas.
Esta primazia da natureza sobre a cultura é bem notória quando uma cultura se começa a aproximar dos limites da sua autodestruição ou desumanização. É por esta primazia que podemos compreender a cultura, concluí-la e realizá-la.
Estas relações interpessoais radicam-se no facto de que a nossa origem também nos está confiada e delas depende que o ser humano seja gerado com a dignidade que a sua natureza exige. Estas relações são as relações conjugais, as parento-filiais e as fraternas.
Mas estas relações são mais que meras relações entre indivíduos, das quais existem muitíssimas. Estas relações são especiais porque manifestam a radical estrutura relacional de qualquer pessoa humana concreta.
Dito de outro modo, esta estrutura radical da pessoa humana é, realmente, uma estrutura "familiar" pela qual cada um de nós, na sua raiz mais profunda, é um entramado de co-identidades, de modos de ser-com-outro, a propósito da sexualidade e do seu surpreendente poder de gerar uma união íntima e vidas humanas.
Cada um de nós é filho ou filha, pai ou mãe, esposo ou esposa, irmão ou irmã, ou então é uma sombra de si mesmo à procura "dos seus", isto é, do "seu" pai e da "sua" mãe, e dos outros "seus", a partir dessa relação primeira - que é a filiação - que só é possível pelo acto de auto-realização livre pelo qual os esposos se geram, como tais, um ao outro.
(Pedro-Juan Viladrich, La palabra de la mujer, EUNSA)
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