segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Carta a Javier Fesser


Publicada no ABC em 7 de Novembro de 2008, a propósito do seu filme.

«Carta a Javier Fesser»

«Não conheci Alexia, nem a sua família, nem o Opus. Julgo que posso dizer que tampouco conheço a Deus. Sou mãe de uma criança de sete anos com cancro. Nunca lhe ouvi uma queixa, nem nunca perguntou o porquê da doença. Quando não pode mais com dores, fica com a cara molhada de lágrimas. E nós ficamos desconsolados. Tenho a certeza que ela é mais valente do que nós. De manhã, quando vou acordá-la dou graças por esta filha que é um tesouro que recebi.

Ao seu lado entendi como é possível sofrer e ser feliz ao mesmo tempo. Somos felizes porque a sua presença ao nosso lado preenche os nossos dias. Ao mesmo tempo sofremos porque não podemos fazer nada para a manter connosco; custa-nos ver como se vai apagando lentamente.

No dia em que se vá, o nosso coração ficará rasgado. No entanto por vezes quereria que fosse agora, para não a ver sofrer. Quem pode resistir à dor de ver que se nos escapa, sem podermos fazer nada?

Javier, não sei se conseguirás entender isto. O que sentiram os pais de Alexia? Não é nada parecido com o teu filme, não é? Já imaginaste se algum dia Deus permitir que tenhas um filho moribundo entre os teus braços? Serás capaz de repetir o que tens dito nas entrevistas? Se passares por isso, verás como o mundo muda de cor... Faltou colocares-te no lugar dos outros.

Parece-me que o teu filme não nos feriu só a nós, mas a todos os espanhóis, porque é um ataque frontal à democracia, que só pode construir-se sobre a tolerância e o respeito às crenças dos outros. Podemos não estar de acordo e podemos dialogar sobre isso, mas é uma tirania levantar a bandeira da liberdade para violar os direitos dos outros e troçar de forma gratuita do sofrimento alheio.

Não duvido que sejas um talento, mas fico entristecida que o uses para ferir, em vez de construir esperanças. O esforço seria o mesmo, e o aplauso seria de todos. Também não entendo porque é que o governo financia, com o dinheiro de todos, filmes que ferem a sensibilidade de tanta gente, em vez de pagar a luta contra o cancro, ou contra a doença de Alzheimer.

Tanto o meu marido como eu tivemos imensas dúvidas em escrever-te. Há tanto que fazer nesta sociedade que isto nos parece uma perda de tempo. Acabámos por fazê-lo na expectativa de que isso possa ajudar outros pais.

Nós decidimos que queremos procurar a verdade sobre esse Deus que sobrevive à morte, e que não permite que a nossa vida acabe no vazio. Também decidimos ir ter com alguém do Opus Dei para que possa explicar-nos tantos porquês que não entendemos. Talvez nos dêem as respostas que tu não soubeste dar-nos.

Embora para o mundo de hoje isso pareça impossível, acreditamos que talvez só Deus nos poderá confortar. »

Teresa e Pablo.

Sem comentários: