segunda-feira, junho 19, 2006

França ensaia discriminação positiva nas escolas superiores



A École Libre des Sciences Politiques ensaia a admissão de alunos provenientes de áreas socialmente problemáticas.
As escolas secundárias das chamadas
zonas de educação prioritárias (ZEP), podem enviar os seus melhores alunos para esta famosa escola - conhecida como Science-Po - onde se formou grande parte da elite política e empresarial francesa. Estes alunos não têm que utrapassar o duríssimo exame de admissão, mas são admitidos após a apresentação de um trabalho, seleccionado e avaliado pela escola superior, e através de uma entrevista.

No ano de arranque, em 2001, dos 17 alunos que entraram mediante este procedimento, 15 já completaram os seus estudos.
O plano é experimental, tem a duração de 10 anos, e está sujeito a umprocesso apertado de avaliação. Para os críticos, que viam nisto um risco de abaixamento da qualidade do ensino, ou de violação do princípio da igualdade tão caro aos franceses, o Director da escola - Richard Descoings - afirma que "estes alunos demonstraram que estavam em igualdade de condições intelectuais com os seus colegas".
Actualmente são 189 os alunos, nestas condições, que frequentam a Science-Po. Todos estão de acordo em que jamais lhes tinha passado pela cabeça estudar num centro de que só conheciam o nome e o prestígio. Mas também garantem que fazem um considerável esforço, não só académico, mas na aquisição das ferramentas sociais necessárias para singrar: como andar vestido, como falar, saber estruturar o pensamento, comer à mesa, etc.

Para já, não parece que esteja em preparação nenhum plano para generalizar o modelo, mas outras escolas já tentam replicar o procedimento. Na Conferência de 2005, que reune as chamadas "Grandes Écoles", foi preparada a "Carta para a Igualdade de Oportunidades". Algumas destas escolas superiores (como a ESSE) aproximaram-se das escolas secundárias, mediante um sistema de tutoria semanal, com o objectivo de preparar os melhores alunos para a futura admissão. Mesmo que alguns destes alunos não consigam ser admitidos nesta escola, estarão em melhores condições para entrarem em qualquer outra universidade.

O próprio poder político anunciou um plano nacional para aumentar o número de bolsas destinadas a alunos que se preparam para pedir a admissão na universidade. Actualmente são 18% dos alunos, sendo que o objectivo é subir para 1/3. O debate sobre a escola e os modelos de escola continua, mas a França começa a pôr em causa o modelo igualitário, pela via dos maus resultados obtidos.