sábado, maio 31, 2008

o dia em que os filhos nascem


«O Guilherme nasceu há dez dias no Hospital de Santa Maria. É o meu terceiro filho. Graças a ele, fiquei a fazer parte de uma elite cada vez mais elitista: só uma em 20 famílias portuguesas tem três filhos ou mais.» (João Miguel Tavares, jornalista, Diário de Notícias, 11.03.2008)

«Portanto, a partir de agora, podem esperar textos sobre os escalões de IRS para famílias numerosas (uma infâmia), a escassez do Estado no ensino pré-escolar (uma vergonha) e a ausência de apoios à maternidade (um escândalo). Sabem como é: cada um queixa-se onde lhe dói. Mas, no caldo político e social em que estamos mergulhados, a falta de atenção em relação às famílias é realmente extraordinária. E começa no dia um - o dia em que os nossos filhos nascem. Não me interpretem mal. As maternidades de Lisboa estão cheias de médicos que sabem o que estão a fazer, o parto correu muito bem, o bebé nasceu fresquíssimo e dois dias depois a minha mulher já estava em casa. Só que toda a competência técnica revela, ao mesmo tempo, uma enorme escassez do factor H - aquele pingo de humanidade que faz a diferença entre o parto ser um obstáculo a ultrapassar ou uma experiência a recordar. Em Portugal, é um obstáculo. Uma operação cirúrgica assim como se fosse uma apendicite. Aliás, desconfio que a única coisa que neste país distingue uma maternidade de um hospital é não se enviar para incineração aquilo que se extrai da barriga. Juro que não sou picuinhas. Quando se chega ao terceiro filho já se exibem orgulhosamente as feridas de guerra. Mas continuo sem perceber porque é que os pais são tratados como um empecilho que é preciso aturar: assinam papéis para aceitarem ser escorraçados da sala de partos mesmo quando não chegam a entrar nela (não podem assistir às cesarianas); têm de ameaçar imolar-se à porta de entrada só para saberem se a mulher que desapareceu há duas horas já levou a epidural; são informados do nascimento via fax (a sério) uma hora depois de o bebé ter efectivamente nascido; só podem ir ter com a mãe e com o filho à enfermaria a partir da uma da tarde e são tratados como qualquer visita; enxotam-nos para fora do quarto sempre que uma enfermeira entra para medir a tensão, mudar o soro ou enfiar mais uma cama; e nem sequer ao refeitório têm autorização de acompanhar a mulher, com medo, sabe-se lá, que acabem a roubar a sopa das outras parturientes. Tudo isto é um absurdo em pleno século XXI. Quando por toda a Europa se procura transformar o parto num acto íntimo e familiar, por cá as crianças continuam a nascer imersas em éter e num profissionalismo frio como a lâmina de um bisturi. O País não é grande coisa, é certo, mas ao menos podia receber os seus filhos com alguma alegria.»

sexta-feira, maio 30, 2008

"Direitos" humanos, na China



«A política chinesa do filho único é uma afronta humana!
A regra manda que cada casal só pode ter um filho. Se tiverem mais do que um, ou pagam uma multa incomportável, ou os escondem (e ficam ilegais), ou, então, matam-nos (o aborto é possível até ao fim da gravidez).

Pois agora, por causa do terramoto, o governo Chinês veio ironicamente suspender essa política para as famílias de Sichuan. Então, quem quiser ter outro filho pode “solicitar um certificado”, quem perdeu um filho ilegal, já não paga multa e quem perdeu um filho legal e tinha um ilegal com menos de 18 anos poderá legalizá-lo. Além disso, em Sichuan, pode-se, temporariamente, adoptar crianças órfãs sem limite.

É que, como o terramoto causou 68 mil mortos e deixou quatro mil órfãos, é preciso repor os stocks e arrumar os excedentes…
Até parece que estamos a falar de um armazém ou de produção de gado… Mas, infelizmente, estamos a falar de pessoas e não de números.
É pena que, nem sequer diante de uma tragédia desta dimensão, o governo chinês não perceba que não é o senhor da vida.»
(RR on-line, Aura Miguel)