Em Outubro do ano passado tivemos uma série de infortúnios na família. O mais importante foi a morte do meu sogro e foi motivo de longas conversas entre a minha esposa, os filhos e eu.
O meu sogro vivia connosco já há alguns anos, tinha oitenta e um anos e era o mais velho da casa. Morreu sem ter tido nenhuma doença especial, sem grandes avisos, não nos dando tempo para nos prepararmos. Ficámos confrontados tanto com a dor, como com a dificuldade de dar a notícia aos nossos filhos.
Demo-nos conta de que mesmo quando nós adultos nos tentamos preparar para a falta dos familiares que nos são mais próximos, raramente pensamos em como ajudar os mais novos nesse transe.
Deixamos aqui algumas experiências:
- Explicar o que sucedeu de forma clara aos filhos. Não é boa ideia dizer que a pessoa que morreu foi em viagem, ou que está adormecida. Em ambos os casos as crianças ficarão na expectativa de que a pessoa irá regressar ou acordar. Sabe-se que algumas perturbações do sono em crianças está associada ao medo de adormecer e morrer. Não se deve ter medo de usar a palavra "morte" nem "morto" - as crianças mais velhas entendem bem estes termos e sentem-se mais seguras por perceber de que estamos a falar.
- Não é útil descrever com muitos pormenores como ocorreu a morte: deve explicar-se de forma clara, mas breve.
- Devemos estar disponíveis para ouvir e intuir os sentimentos dos mais pequenos. Alguns sentem culpabilidade pela morte dos familiares. É útil explicar com clareza que aquilo que eles tenham dito, ou pensado, não provoca a morte a ninguém.
- O entendimento que as crianças têm da morte varia com a idade. Os rapazes só entendem o significado da morte depois dos 3 anos, em geral. Dos 3 aos 5 anos, tendem a considerar a morte como um estado temporário, e reversível. A partir dos 5 anos já entendem que a morte é uma situação definitiva, mas só pelos 10 anos é que lhes ocorre que também eles próprios podem morrer.
- A partir dos 10 anos entendem que a morte toca a todos.
- Isto não é matemático: há muitas variações e, geralmente, as crianças que passaram pela situação de morte de um ser próximo geralmente têm uma compreensão mais profunda da situação.
- Ficámos convencidos de que não devemos impedi-los de participar no velório e no enterro, mas apenas se o quiserem, livremente, fazer. Verificámos que a sua participação, voluntária, foi uma ajuda boa para eles próprios e para os outros.
- Não se deve ter vergonha de chorar na frente dos filhos: eles entendem e sentem-se acompanhados na dor, mas as cenas (escandalosas) de gritos e sinais de desespero criam neles uma imagem muito negativa.
- Devemos deixá-los expressar a sua dor. Podemos até ajudar comunicando-lhes como nós também sentimos essa pena. Isso evita algumas situações de dor não expressa, manifestada através de pesadelos, dificuldades de concentração, etc.
- As crianças sentem-se mais acompanhadas com um abraço do que com explicações.
- Para os que têm fé, é uma oportunidade de explicar em que consiste a esperança da reunião de todos na presença do Pai Comum.
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