(...) «Nas igrejas pode estar a diminuir o número de fiéis, mas nas ruas correm multidões de penitentes. Dizem que vão salvar o planeta e sobretudo comprazem-se em anunciar-lhe o fim, ora submerso como aconteceu à orgulhosa Atlântida, ora abrasado como terá sucedido em Sodoma e Gomorra.
Àqueles que ousam questionar tal Apocalipse acusam de incredulidade e casos existem em que tentaram mesmo criminalizar a formulação destas dúvidas que vêem como uma heresia. E assim, dois séculos e meio após ter sido escrito o Juízo da Verdadeira Causa do Terramoto Que Padeceu a Corte de Lisboa, no primeiro de Novembro de 1755, o padre Gabriel Malagrida tornou-se não só uma obra actual como global.
(...) O resto desta história é razoavelmente conhecido: o padre Malagrida acabou queimado num auto-de-fé e o Marquês de Pombal reforçou os seus poderes
(...)
Aquele espalhafato penitencial da pegada ecológica que esta semana anda por Copenhaga tem de facto muito dopalavreado dos pregadores que, comoo pobre Malagrida, aterrorizavam os nossos antepassados, associando os seus pecados aos tremores de terra, à perda das colheitas, àssecas ou à fúria das águas. As alterações climáticas sempre aconteceram e a instabilidade do clima sempre reduziu os homens, sejam eles das cavernas ou dos arranha-céus, à sua insignificância.
Por isso em todos os tempos sempre existirão Malagridas a inventarem-nos responsabilidades naquilo que infelizmente não podemos evitar, como as catástrofes naturais, ou a agigantarem-nos os medose as culpas como está a acontecer actualmente com o aquecimento global que, recordo, sucede aoterror duma nova idade do gelo e à explosãodemográfica como os flagelos que, nas últimas décadas, nos garantiram que iam destruir o planeta.
Mas não sejamos inocentes: Malagrida não existe sem Pombal. Por Copenhaga circulam os herdeiros do autoritarismo iluminista que em cada catástrofe, seja ela real ou anunciada, vêem uma possibilidade de aumentar o seu poder para níveis que, não fosse esta ambiência catastrófica, não se aceitariam.
As propostas que em nome da salvação do planeta se têm feito ouvir por parte de líderes como Sarkozy, Lula da Silva ou Zapatero provavelmente ficarão pelo meio do caminho à excepção óbvia da produção de milhares e milhares de regulamentos que aumentarão o poder dos governos não para melhorar a vida do ou no planeta, mas sim para complicar a existência dos comuns mortais e torná-los cada vez mais dependentes do poder político.» (Helena Matos, no Público de 10 de Dezembro)
Sem resposta aos cépticos, Al Gore estreou-se mal em Copenhaga. «Num discurso proferido ontem na capital dinamarquesa, o antigo vice-presidente dos Estados Unidos afirmou que um novo estudo revela que o Árctico vai deixar de ter gelo, durante os meses de verão, dentro de cinco anos. No entanto, o autor deste estudo, Wieslav Maslowski, nega ter chegado a esta conclusão. (...)
Maslowski afirmou que "nunca tentou estimar uma probabilidade tão exacta" como a que foi anunciada por Gore.
Mais tarde, o autor de "Uma verdade inconveniente" admitiu que os 75% foram usados por Maslowski como um "dado aproximado" numa conversa entre os dois há vários anos. (...)
O discurso de Gore foi também alvo de criticas por parte da comunidade científica, que descreve a estimativa como "agressiva". "Isto é um exagero que deixa a ciência exposta às críticas dos cépticos", afirmou Jim Overland da Oceanic and Atmospheric Administration.» (Jornal de Negócios, notícia em 15 de Dezembro)
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