sexta-feira, dezembro 19, 2008

opção da mulher


«Portugal é o segundo da UE com maior taxa de cesarianas » (noticia de hoje no Publico)

(...) Vários factores contribuíram para este aumento, incluindo o medo dos processos judiciais, a percepção de que a cesariana era um procedimento seguro e o desconhecimento das suas possíveis consequências adversas. O facto de as mulheres pedirem cesarianas também foi citado", refere o relatório (...)

Pelos vistos para os nossos moralistas sanitários o facto de as mulheres optarem por cesarianas não deveria ser respeitado. Mas se optarem por abortar, já não há nada a dizer e até dá direito a subsídio!



domingo, dezembro 14, 2008

Pais-helicóptero


«Nós pais nunca podemos ganhar, não é? Quando se trata de vencer, todos são melhores do que nós, incluindo os que nem sequer têm filhos.


Uma mãe recente aprende esta primeira lição quando sai pela primeira vez, para a rua, com o filho no carrinho (com a criança virada para si porque, felizmente, as investigações da psicologia confirmaram esta básica questão de bom senso...). O primeiro estranho bem-intencionado que encontra garante-lhe que a criança está irrequieta, por estar demasiado presa; o bem-intencionado seguinte, garante-lhe que a criança está em risco, por estar demasiado solta.

Lê-se muito, hoje em dia, sobre os chamados pais-helicóptero. Também já vimos atrás os chamados pára-quedistas bem intencionados ... Os pais-helicóptero envolvem-se pessoalmente em cada pormenor da existência dos seus filhos, permanentemente pairando, vôo circular, para protegerem as crianças não só do mal exterior, mas delas próprias. Se acham a Wikipédia credível, então a expressão "pais-helicóptero" é original do séc. XXI.

Claro que hoje em dia, os pais não têm grande alternativa senão planarem como helicópteros; de facto até é isso mesmo que a sociedade espera deles. Lembro-me logo dos trabalhos de casa (TPC's). Tendo acompanhado a ida para a escola de 10 crianças, ao longo dos últimos 16 anos, senti claramente a mudança no modo como as crianças são ensinadas a lidar com os deveres e os compromissos. A responsabilidade por estas tarefas foi transferida dos alunos, para os seus pais.

No "velho" séc. XX, quando o meu filho mais velho estava a começar a receber alguns trabalhos para casa (algures no 2º ano de escolaridade), recebiam um pequeno caderno (com metade das folhas) para fazerem e guardarem os seus pequenos trabalhos. Era a sua tarefa.

Se omitissem os deveres, três vezes sucessivas, na semana seguinte deveriam sofrer as consequências: o caderno tinha que ser assinado, diariamente, por um dos progenitores.

Por outras palavras: a assinatura dos pais era requerida apenas para os alunos que ainda não tinham conseguido organizar-se e responsabilizar-se pelas suas tarefas. Esta estratégia servia para ajudar na responsabilização da maioria dos alunos, e permitia uma maior proximidade naqueles que a requeriam.

Para os meus dois filhos mais velhos funcionou lindamente. Mantiveram-se bastante organizados até à Universidade.

Actualmente os alunos compram uns cadernos enormes, com argolas espiraladas, e na maioria das escolas é pedido aos pais que assinem diariamente os cadernos.

Parece-me que este foi o início dos "pais-helicóptero". Isto não ajuda nada os pais que tentam ao máximo não serem "helicópteros" [abelhudos, diria eu]. Na escola dos meus filhos estes cadernos têm que ser assinados diariamente, mesmo que não haja nada escrito no caderno, nesse dia.

A Mãe e o Pai têm mais uma rotina importante no seu dia: assinar uma folha do caderno, ainda que em branco. E os meus filhos não se podem esquecer, diariamente, de recordar ao Pai ou à Mãe de que devem assinar uma folha branca. Já não são só "pais-helicóptero", também são os "filhos-helicóptero".

E na escola, os filhos são responsabilizados ... pela assinatura dos pais. Se a assinatura faltar, mais de 3 dias, o nome do aluno é escrito no quadro, e recebem uma classificação de "trabalho de casa incompleto", mesmo que tenham feito sempre os trabalhos de casa.

O efeito desta rotina nos meus filhos, na fase do ciclo básico, foi interessante. Tornou-se uma luta para conseguir que eles se responsabilizassem pelos seus estudos. Actualmente, com os mais novos, as conversas podem ser assim:

-Mãe:«O que é que queres dizer com que 'ainda não começaste a fazer' o projecto que devias entregar amanhã?»

-Filho (em tom acusador):«Só estava escrito no caderno ...»

Esta é a altura em que os meus filhos entendem (porque eu lhes digo, com todas as letras), que a única razão porque assino os cadernos é porque os professores assim o querem, mas que não é tarefa minha andar a esvoaçar à volta dos seus trabalhos de casa.

Termino a lição perguntando se eles estão a imaginar que, quando forem adultos, irei diariamente ao emprego deles ver se de facto foram trabalhar. A seguir sentam-se na mesa da sala de jantar e ficam a trabalhar até cumprirem todas as tarefas devidas para o dia, comigo a vigiar para que não haja escapadelas.

No fim ganham em independencia, e autonomia, embora provavelmente me acusem de ser realmente uma mãe-helicóptero, porque exijo que apontem para ter, pelo menos, nota 4 (numa escala de 5), mesmo que estejam a fazer o trabalho à última hora.

Os pais-helicóptero, tal como os bebés demasiado soltos, ou demasiado apertados, estarão provavelmente na mira dos bem-intencionados pedagogos. Mas a decisão do maior ou menor aperto, ou de esvoaçar ou não, é melhor deixarem-na com a Mãe e o Pai.»

(escrito por Michelle Martin, Toronto. Canadá, no blog de Mercator.net)

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Com a verdade me enganas ...


«Ninguém emenda um erro que não reconhece. Quem acha que tudo vai bem só corrige o mal demasiado tarde. A recente crise financeira mostra muitos casos destes»

(...)

«A nossa imprensa traz pouca informação. Muita análise, intriga, provocação, boato, emoção, combate, mas pouca informação. O público não quer jornalismo, quer entretenimento. Para ter sucesso o repórter precisa de ter graça, ser espirituoso, ver o aspecto insólito. Assume uma atitude de suposta cumplicidade com o leitor, ouvinte ou espectador desmontando para gáudio mútuo o ridículo que achou que devia reportar. Antecipa no relato o que assume ser o veredicto popular, condenando ou absolvendo aqueles que devia apenas retratar.

Assiste-se a uma verdadeira caça ao deslize, empolado até à hilaridade. Só triunfa se apanhar desprevenido e atrapalhar o entrevistado. Enquanto descreve o que vê quase às gargalhadas, não se dá conta da perda de dignidade profissional. Tem sucesso, mas não rigor. Quem segue a notícia fica com a sensação de ouvir aquele que, dos presentes, menos entendeu o que se passou no acontecimento.

Aliás, relatar o sucedido é o que menos interessa. O jornalista vai ao evento para impor a agenda mediática que levou da sede. A inauguração de um projecto revolucionário, por exemplo, só importa pela oportunidade de fazer a pergunta incómoda ao governante sobre o escândalo do momento. Investimentos de milhões, trabalho de multidões, avanços e benefícios notáveis são detalhes omitidos pela intriga picante que obceca o periódico.» (...)
(J Cesar das Neves, artigo DN, 01 Dez 2008)