quinta-feira, outubro 23, 2008

promoção da precariedade




(...) «Há pessoas em cujo espírito subsiste a ideia de que defender a concepção de uma família estável e duradoura, como alicerce para a saúde mental do indivíduo e para o bem da sociedade, corresponde a um pensamento retrógrado.

Pressente-se, assim, que a estabilidade na família é vista com um cepticismo mordaz e como uma grilheta à liberdade individual.


Embora careça de melhor explicação quais os modelos alternativos de família que defendem os vários partidos políticos, "a concepção de família alternativa" mais popular é aquela que fomenta as experiências individuais e rejeita um estilo de vida padronizado. Ou seja: viver bem e ser feliz não depende de uma forma-padrão.

Nesta configuração, a família transforma-se numa união de pessoas que coabitam numa proximidade física e emocional, na qual a "paixão por viverem juntas" é o único compromisso de coexistência.

Mas este é um conceito de família vago, permissivo e volátil, uma vez que, ora existe, ora deixa de existir.

Trata-se de uma concepção de família que não deixa espaço para a estabilidade e que tem asco à responsabilidade, dado que, ao mínimo sinal de inconveniência, fracasso ou de risco, facilita a impulsividade e aponta inequivocamente a fuga como a melhor saída.»


(...)

Promover a volatilidade absoluta nas relações familiares, sem direitos e obrigações prescritas, é promover a imaturidade.

(...)

Já há muito tempo que a Psiquiatria reconhece a importância da família no desenvolvimento do indivíduo e a sua ligação à psicopatologia. Qualquer alteração legislativa radical - democraticamente legítima - no regime jurídico do casamento tem fortes implicações individuais, familiares e sociais, cujas consequências são imprevisíveis.

Porém, não se tem observado, por parte do legislador, a necessária prudência e o espírito dialogante que deveria acompanhar uma matéria tão sensível como esta.

Resta esperar que a nova concepção de família não seja uma obsessão política invencível e que haja tolerância e responsabilidade democrática suficiente para se continuar a discutir este importante tema.»

Pedro Afonso, A familia volátil e a imaturidade,
Médico psiquiatra ,
no Público de 23-10-2008

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