(...) «Um estilo muito liberal de educação dos
filhos, conduziu a que fosse criada na Suécia uma geração de crianças
mimadas e centradas em si mesmas, o que não augura nada de bom para o
seu futuro. Este é o diagnóstico do psiquiatra David Eberhard no seu
novo livro "Como as crianças tomaram o poder", que desde a sua
publicação no ano passado, desencadeou opiniões opostas e fez do seu
autor, um protagonista de entrevistas na televisão e de editoriais - em
grande parte críticos - nos jornais.
(...)
Não
é que Eberhard proponha regressar à palmada. O que diz é que, ao abrigo
da ideia do respeito pela criança, muitos pais renunciaram a
estabelecer regras e disciplina aos seus filhos, os quais assumiram o
comando e não só o da televisão.
"À partida, deve-se ouvir as
crianças", admite Eberhard, "mas na Suécia foi-se demasiado longe. Elas
tendem a decidir tudo nas famílias: quando ir para a cama, o que comer,
aonde ir de férias, o que ver na televisão". "Vivemos numa cultura onde
os chamados ‘especialistas' dizem que a criança é ‘competente' e a
conclusão é que as crianças decidem".
Isto fez com que a educação do
caráter das crianças deixe muito a desejar. Para Eberhard, são
simplesmente mal educadas e teimosas. Numa reunião, interrompem
constantemente, querem ser o centro das atenções e reclamam o mesmo
espaço que os adultos.

Não
se comportam melhor na escola. As crianças foram educadas numa atitude
muito antiautoritária, e isso nota-se no modo de responder na escola aos
professores. Estes têm de conversar com elas para que deixem de
utilizar o telefone na aula e, segundo um exemplo citado por Eberhard,
um professor que se atreveu a confiscar o telefone de uma criança, teve
de enfrentar depois as críticas dos pais que o acusavam de não respeitar
os direitos da criança.
As crianças de hoje são os filhos de uma geração que não conheceu muita disciplina, e que não sabe como impô-la.
A família não é uma democracia
Agora,
o ministro da Educação tem vindo a pedir mais disciplina na escola. O
que fez soar os sinais de alarme foi a descida das classificações dos
alunos suecos de 15 anos nos testes PISA. As suas competências situam-se
abaixo da média da OCDE, tanto em matemática, como em leitura e
ciências, com retrocessos em todas elas. Não é estranho que olhem com
inveja para a vizinha Finlândia, onde os professores têm uma autoridade
que perderam na Suécia e cujos resultados académicos são excelentes.
Eberhard
pensa que a educação recebida pelas crianças suecas não as prepara para
as frustrações inevitáveis da vida. "As suas expectativas são muito
altas e a vida é demasiado dura para elas. Daí terem crescido muito os
casos de ansiedade e de jovens que se mutilam a si próprios".
Que
propõe Eberhard para corrigir esta situação? Que os pais voltem a
assumir o seu papel de educadores, acabando com a tirania da criança.
"Tem de se assumir o controlo na família. A família não é uma
democracia".
O diagnóstico do psiquiatra dividiu o país. Alguns veem
confirmadas as suas preocupações, e apoiam que os pais coloquem mais
limites às crianças. Outros dizem que o tipo de criação dos filhos
corresponde à ênfase que o país deposita na democracia e na igualdade.
Há quem veja o lado positivo de uma atitude antiautoritária, que
favoreceria uma maior criatividade dos jovens quando se vão incorporar
no mundo laboral.» (...)
In aceprensa.pt