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Não é que Eberhard proponha regressar à palmada. O que diz é que, ao abrigo da ideia do respeito pela criança, muitos pais renunciaram a estabelecer regras e disciplina aos seus filhos, os quais assumiram o comando e não só o da televisão.
"À partida, deve-se ouvir as crianças", admite Eberhard, "mas na Suécia foi-se demasiado longe. Elas tendem a decidir tudo nas famílias: quando ir para a cama, o que comer, aonde ir de férias, o que ver na televisão". "Vivemos numa cultura onde os chamados ‘especialistas' dizem que a criança é ‘competente' e a conclusão é que as crianças decidem".
Isto fez com que a educação do caráter das crianças deixe muito a desejar. Para Eberhard, são simplesmente mal educadas e teimosas. Numa reunião, interrompem constantemente, querem ser o centro das atenções e reclamam o mesmo espaço que os adultos.
Não se comportam melhor na escola. As crianças foram educadas numa atitude muito antiautoritária, e isso nota-se no modo de responder na escola aos professores. Estes têm de conversar com elas para que deixem de utilizar o telefone na aula e, segundo um exemplo citado por Eberhard, um professor que se atreveu a confiscar o telefone de uma criança, teve de enfrentar depois as críticas dos pais que o acusavam de não respeitar os direitos da criança.
As crianças de hoje são os filhos de uma geração que não conheceu muita disciplina, e que não sabe como impô-la.
A família não é uma democracia
Agora,
o ministro da Educação tem vindo a pedir mais disciplina na escola. O
que fez soar os sinais de alarme foi a descida das classificações dos
alunos suecos de 15 anos nos testes PISA. As suas competências situam-se
abaixo da média da OCDE, tanto em matemática, como em leitura e
ciências, com retrocessos em todas elas. Não é estranho que olhem com
inveja para a vizinha Finlândia, onde os professores têm uma autoridade
que perderam na Suécia e cujos resultados académicos são excelentes.
Eberhard
pensa que a educação recebida pelas crianças suecas não as prepara para
as frustrações inevitáveis da vida. "As suas expectativas são muito
altas e a vida é demasiado dura para elas. Daí terem crescido muito os
casos de ansiedade e de jovens que se mutilam a si próprios".
O diagnóstico do psiquiatra dividiu o país. Alguns veem confirmadas as suas preocupações, e apoiam que os pais coloquem mais limites às crianças. Outros dizem que o tipo de criação dos filhos corresponde à ênfase que o país deposita na democracia e na igualdade. Há quem veja o lado positivo de uma atitude antiautoritária, que favoreceria uma maior criatividade dos jovens quando se vão incorporar no mundo laboral.» (...)
In aceprensa.pt